I - O CHAMADO DO DESTINO
NUMA clareira próxima dali,
animais se aquietam para ouvir a bela e delicada melodia que um jovem toca em
sua flauta. De olhos fechados, ele se concentra e sente a agradável brisa em
seu rosto, percorrendo suavemente seus pulmões e concebendo aquela doce e
agradável canção, como se ele e seu instrumento fossem um com o vento.
Mas, de
repente, o flautista é interrompido, quando os pássaros e os outros animais
voam e correm para longe.
ELO: – O que foi,
garoto?
Elo se
levanta e olha na direção para onde está farejando o seu coeti, um pequeno
mamífero de longa cauda anelada e compridas orelhas. Ele abaixa para seus olhos o visor que está em sua testa, e o
ajusta até conseguir avistar Abiz caído ao lado de uma árvore.
ELO: – Essa não, Minmo.
Parece que alguém está machucado!
Guardando
na bolsa a flauta e voltando o visor para a testa, Elo e Minmo correm pelas
árvores e barrancos da floresta até chegarem ao idoso Abiz, que está
mortalmente ferido. As roupas sujas de sangue e a flecha jogada próxima à mão
revelam de onde ela veio. Pela vestimenta, Elo percebe que é alguém da corte.
Os
olhos marejados de Abiz encontram os de Elo.
ABIZ: – Você precisa
salvar...
ELO: – Poupe suas
energias, senhor. Precisamos lhe levar at-
ABIZ (ofegante): – Não.
Escute. Sariel... precisa de sua ajuda... rápido... Ela foi capturada...
Você... você tem... tem que...
Elo
tenta inútil e desesperadamente reviver Abiz, mas é em vão. Como último
movimento, Abiz colocara, com dificuldade, a mão dentro do seu roupão. Ao
retirá-la, Elo percebe que ele segurava uma adaga.
ELO: – Acho que ele
queria me dar isso, Minmo.
Elo
olha para o coeti, que está em seu ombro, concordando.
ELO: – É melhor não
perdermos tempo. A princesa deve estar em perigo.
Apressadamente,
Elo segue caminho até achar a estrada real, onde encontra os guardas reais também
mortos.
ELO (chocado): – Não
sobrou ninguém.
Elo
olha na direção em que Minmo está farejando, e vê algo se mexendo por entre as
árvores. Algo grande, amarronzado. Ouvindo os típicos e calmos sons da
floresta, Elo se aproxima devagar, e descobre que é um cavalo real, dourado e
branco.
Suspirando
de alívio, ele acalma o cavalo até conseguir montar nele. Embora sejam dóceis
graças ao treinamento desde cedo, esse cavalo parece ainda assustado com os
acontecimentos recentes.
ELO: – Calma, garoto,
você virá na missão da sua vida!
O
cavalo se apoia sobre as patas traseiras e rincha, deixando Elo assustado e
emocionado. Bravamente, Elo parte montado no cavalo em busca da Princesa
Sariel.
ELO (confiante): – Isso,
garoto!
Momentos
depois, ele vê os raptores à distância, quase chegando à praia, e diminui a
marcha da cavalgada.
ELO: – Whoa!
Cavalgando
devagar, sorrateiramente, Elo se aproxima mais do grupo, por entre as árvores,
e desce da sua montaria.
ELO (pensando): – *glup*
Eles são muitos! Precisamos de um plano.
Sentindo
a fresca brisa marítima no rosto, Elo tem uma ideia. Cautelosamente, o garoto pega
uma pedra e a arremessa precisamente com sua funda, atingindo uma árvore no
lado oposto da estrada.
AMAN: – O que foi isso?
Os
soldados mascarados olham naquela direção e fazem menção de irem verificar, mas
acabam seguindo em frente. Sem perder tempo, Elo aproveitara a distração e
entrou com Minmo na carruagem, enquanto ela ainda estava parada, deixando
Sariel assustada.
SARIEL: – Quem é você?
Como passou pelos guardas?
ELO: – *shh* Fale baixo.
Eu vim salvá-la!
SARIEL: – Sério!? Que
bom! Mas... como?
ELO: – Achei que essa
seria a parte fácil.
SARIEL: – *suspiro* Tudo
bem. Você pode começar me desamarrando.
Com a
carruagem balançando ao voltar a andar, Elo pega a adaga de Abiz e corta as
cordas que prendem as mãos de Sariel.
SARIEL (apreensiva): –
Essa adaga...
ELO: – Sinto muito. Foi
ele quem me enviou.
SARIEL (triste): – Ele
era Abiz, meu guardião. O Conselho precisa saber da traição de Aman. Ele não
tem honra. O Conselho saberá o q- uou!
Felizmente,
Elo já libertara Sariel no momento em que ambos foram lançados para frente
quando a carruagem parara repentinamente.
MASCARADO: – Olha isso!
Os
jovens na carruagem se levantam e olham escondidos por entre as cortinas de uma
das janelas esquerdas da carruagem.
SARIEL (assustada): – O
que está acontecendo?
ELO (apreensivo): – O
mar... está recuando!
SARIEL: – Tudo isso que
está me acontecendo hoje... só pode ser um sonho. Tem de ser.
Aman e
seus asseclas estão paralisados vendo tal evento assombroso. Bem, nem todos
estão paralisados. Alguns fazem seus cavalos começarem a recuar devagar.
Logo, o
chão da praia começa a tremer.
Pasmos,
os mascarados, em peso, começam a correr em seus cavalos. Até mesmo os dois que
conduziam a carruagem partem as cordas para se livrarem do peso e fogem em
disparada.
AMAN: – Onde estão indo?
Covardes! Voltem aqui!
Aman
olha para o mar e cai do cavalo, que lhe derruba ao também fugir galopando. Ele
pronuncia algo impublicável quando começa a sair do mar algo gigantesco.
ELO: – Vamos, princesa,
é a nossa chance!
O jovem
sai da carruagem com Sariel e Minmo, mas ficam perplexos quando começam a
flutuar.
ELO: – O quê!?...
SARIEL: – O que é isso!?
Repentinamente,
eles percebem tarde demais uma violenta enchente que inunda a praia e os separa
ao lhes levar embora.
Momentos
depois, Elo volta a si.
ELO: – Gasp! *tosse*
O jovem
acorda num barranco, com Minmo lhe lambendo o rosto. Mas, antes que possa se
recompor, sua atenção é desviada para um objeto gigantesco flutuando no céu,
próximo dali.
ELO (tomando folego): –
Mas que...
Elo se
levanta devagar e dá alguns passos trás, abismado.
Pairando
e girando na praia, uma imensa construção metálica em forma de octaedro ocupa
parte da visão celeste, protegido por um imponente campo de força lilás.
Próximo capítulo: O Menino Raposa